quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Hoje é o último dia do ano.

Hoje é o último dia do ano. Em todo o mundo que este calendário rege andam as pessoas entretidas a debater consigo mesmas as boas acções que tencionam praticar no ano que entra, jurando que vão ser rectas, justas e equânimes, que da sua emendada boca não voltará a sair uma palavra má, uma mentira, uma insídia, ainda que as merecesse o inimigo, claro que é das pessoas vulgares que estamos falando, as outras, as de excepção, as incomuns, regulam-se por razões suas próprias para serem e fazerem o contrário sempre que lhes apeteça ou aproveite, essas são as que não se deixam iludir, chegam a rir-se de nós e das boas intenções que mostramos, mas, enfim, vamos aprendendo com a experiência, logo nos primeiros dias de Janeiro teremos esquecido metade do que havíamos prometido, e, tendo esquecido tanto, não há realmente motivo para cumprir o resto, é como um castelo de cartas, se já lhe faltam as obras superiores, melhor é que caia tudo e se confundam os naipes.
José Saramago em “O Ano da Morte de Ribeiro Reis”

domingo, 27 de dezembro de 2009

“ 22 De Julho de 1997
Minha Querida Chaterine,Sinto a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é particularmente difícil porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa vida juntos. Quase que consigo sentir-te a meu lado enquanto escrevo esta carta, e consigo cheirar o aroma de flores silvestres que me faz sempre lembrar de ti. Mas neste momento, essas coisas não me dão qualquer prazer. As tuas visitas têm sido menos frequentes, e por vezes sinto como se a maior parte do que sou estivesse lentamente a dissipar-se.Estou a tentar, ainda assim. À noite quando estou sozinho, chamo por ti, e sempre que a minha dor parece ser maior, encontras constantemente maneira de voltar para mim. Ontem à noite, nos meus sonhos, vi-te no pontão perto de Wrightsville Beach. O vento soprava através do teu cabelo e os teus olhos retinham a luz pálida do Sol que se desvanecia. Fico espantado quando te vejo encostado ao parapeito. Tu és bela, penso enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo encontrar em mais ninguém. Começo a andar lentamente na tua direcção e quando, finalmente, te voltas para mim, reparo que outros têm estado a observar-te também. «Conhece-la?» perguntam-me em sussurros invejosos, e enquanto sorris para mim, respondo simplesmente com a verdade. «Melhor do que o meu próprio coração.»Paro quando chego perto de ti e envolvo-te nos meus braços. Anseio por esse momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu retribuis o meu abraço, eu entrego-me a esse momento, em paz mais uma vez.Levanto a mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fechas os olhos. As minhas mãos são ásperas e a tua pele é macia, e interrogo-me durante um momento se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o fizeste, e é em alturas como esta que eu sei qual é o meu objectivo na vida.Estou aqui para te amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro sítio onde possa estar.Mas depois, como sempre, a neblina começa a formar-se enquanto permanecemos juntos um ao outro. É um nevoeiro distante que nasce do horizonte, e descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se aproxima. Ele insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta, cercando-nos como que para evitar que fujamos. Como uma nuvem rolante, cobre tudo, fechando, até mais nada restar senão nós os dois.
Sinto a minha garganta a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de lágrimas porque sei que são horas de partires. O olhar que me lanças naquele momento persegue-me. Sinto a tua tristeza e a minha própria solidão, e a dor no meu coração, que permanecera silenciosa só por um pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu me soltas. E então estendes os braços e dás uns passos para trás, desaparecendo no nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu. Anseio por ir contigo, mas a tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é impossível.
E eu assisto com o coração a partir-se enquanto desapareces lentamente. Dou comigo a esforçar-me por lembrar tudo acerca daquele momento, tudo acerca de ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem desaparece e o nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico sozinho no pontão e não me importo com o que os outros pensam quando baixo a cabeça e choro e choro e choro.
Garrett”

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Amor e preconceito - MRP

"O MAIOR inimigo de um amor pleno é o medo. O medo de não ser suficientemente amado, de não amar o suficiente, de não sermos a pessoa que pensamos que o outro quer, o medo da responsabilidade, da rotina, do compromisso, o medo de falhar, de se deixar ir, de amar e de se deixar amar. Mas há outro grande inimigo do amor: o orgulho. Quantas vezes não perdemos quem amamos por teimosia, mania, obsessão por argumentos racionais e orgulho ferido?

O ORGULHO ferido num homem é das maleitas mais difíceis de curar; por mais que ele ame uma mulher, se ela lhe abana o orgulho, vira-se o barco e vai tudo ao fundo. E fazer tremer o orgulho de um homem é mais fácil do que parece. É preciso conhecer bem os homens em geral e cada um em particular para não cometer erros inocentes que podem conduzir a uma derrocada inevitável. Por norma, os homens têm de sentir que são importantes na vida de uma mulher. E se por acaso ganham menos, são menos cultos ou menos viajados, se não dominam a realidade que os rodeia da mesma forma que a mulher, isso pode ser o suficiente para se sentirem inseguros ao lado dela.

A INSEGURANÇA é irmã do orgulho. A Natureza ensinou-nos que a maior parte das espécies animais só ataca sob duas condições: quando tem fome ou quando tem medo. E lá voltamos outra vez ao cerne da questão: o medo está na base das inseguranças, que geram atitudes orgulhosas de defesa, as quais podem revelar-se em gestos de ataque.

Um caso clássico é o do homem que, ao ser rejeitado por uma mulher, trata imediatamente de arranjar outra. Há muitas mulheres que fazem o mesmo, mas não exactamente pelas mesmas razões. Quando uma mulher é rejeitada por um homem e arranja outro, fá-lo para chamar a atenção, como quem diz: ‘Estou aqui, vem cá buscar-me, no fundo é de ti que eu gosto, és tu quem eu quero e de quem preciso ao meu lado’.

Quando um homem sob as mesmas circunstâncias arranja outra mulher, está a passar a mensagem ‘o mundo está cheio de mulheres e portanto não preciso de ti para nada’. Ainda que saiba que no fundo é daquela que precisa, ainda que seja da anterior que gosta e não da nova. Mas há que manter a pose masculina e os códigos de honra de um macho, que se quer ver e ser visto como tal, ditam-_-lhe ao ouvido que não pode voltar atrás, porque isso não representa o triunfo do amor, mas uma derrota pessoal, impensável de superar.

AS MULHERES são infinitamente menos orgulhosas. Para uma mulher voltar atrás não é uma derrota, é uma prova de amor. Conseguimos atirar para trás das costas ou passar uma esponja pelas patifarias ou passos em falso do nosso parceiro em nome de valores mais elevados. Há mulheres que o fazem pelos filhos, pela devoção inabalável do conceito de família, por medo da solidão ou porque simplesmente conseguem perdoar. Quando uma mulher já não consegue perdoar um homem é porque ele já gastou todos os créditos e ela já não consegue ter por ele nenhum respeito. É quando já não esperamos nada das pessoas que elas morrem no nosso coração.

COM os homens não é assim: podemos viver no coração deles para sempre, ainda que mostrem ao mundo que já não nos amam. O orgulho fala mais alto, o preconceito da rejeição acaba por prevalecer no coração de um homem, que tem medo, sobretudo medo de ser rejeitado outra vez."

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Apaixona-te

apaixona-te definitivamente pelo teu sonho... o sonho de ninguém deve ser mais apaixonante do que o teu. apaixona-te pelo teu talento. apaixona-te mais pela viagem do que pela chegada ao destino. desapaixona-te dos teus medos, eles minam a tua alegria de viver. apaixona-te pelas tuas memórias mais deliciosas, ninguém pode tirá-las de dentro de ti. apaixona-te por aquele riso contagiante. apaixona-te por alguém... apaixona-te pelo teu projecto de vida, acredita. apaixona-te pela dança da vida que está sempre em movimento. apaixona-te pela ideia de ser verdadeiramente feliz. apaixona-te pela música que tu podes ser para alguém... apaixona-te definitivamente por ti. o poder de nos apaixonar-mos só a nós pertence!

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[Junior Kinsell]