quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Notas para aquele que procura, em momentos de luto

Em primeiro lugar permita-se sentir mal, necessitado, vulnerável. Não se faça de forte, não guarde tudo para si mesmo.
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Com o tempo, se continuar em frente, a dor e o medo irão diminuindo. Se alguma coisa consegue consegue tornar o caminho mais fácil é exactamente encontrar a maneira de nos permitirmos sentir e expressar a dor, a tristeza, a raiva, o medo do futuro. Percorrer o caminho de uma ponta à outra é condição necessária para nos encontrarmos a nós mesmos.
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Permita que o pranto se manifeste caso chegue aos seus olhos. É prerrogativa sua chorar tudo aquilo que sentir. Possivelmente sofreu um duro golpe, a vida surpreendeu-o, não souberam compreendê-lo, o outro partiu e deixou-o sozinho. Nada de mais pertinente que o regresso à nossa antiga capacidade de chorar o desgosto que sentimos, de gritar a nossa dor, de lamentar a nossa impotência. Não esconda a dor. Partilhe o que está a viver com os que se encontram mais próximos. Talvez não sejam os seus companheiros de percurso definitivos, mas são aqueles com quem partilha este troço da vida. A família, os amigos, um desconhecido, um professor. Chorar é algo de tão exclusivamente humano como rir. O pranto actua como uma válvula libertadora de tensão interior. Podemos fazê-lo sós, se tal for a nossa escolha, ou com outros que também chorem. Quando nos dói o interior da alma, nada melhor do que chorar.
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Não guarde tudo para si com receio de cansar os outros ou de os aborrecer. Procure as pessoas com as quais pode expressar o que sente. Poderá parecer-lhe impossível de acreditar, mas é verdade o que dizem: Em conjunto, as penas dividem-se, as alegrias multiplicam-se!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Pablo Neruda

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos...
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Rubem Alves

"Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabarolice. Inquieto-me com invejosos que tentam destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talento e sorte.

Já não tenho tempo para administrar pessoas melindrosas que apesar da idade cronológica são imaturas. As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos. O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Quero essência, a minha alma tem pressa!

Quero viver ao lado de gente humana, que se ri dos seus tropeções, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados e deseja tão somente andar ao lado do bem.

Quero caminhar perto de coisas e pessoas verdadeiras, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será uma perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena!"

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Jorge Bucay: Quem sou? Onde vou? Com quem?

Mesmo as pequenas perdas implicam dor e trabalho. Uma dor que magoa e um trabalho que é necessário fazer, que não acontece por si. Uma tarefa que quase nunca acontece de forma espontâneas connosco como espectadores. Se em geral tudo acontece de forma natural, sem necessidade de atropelos nem buscas, o nosso caminho para o êxito implica pelo menos uma certa participação activa no processo que, não sendo necessário, não +e nem um pouco agradável. É claro que existem perdas de tal modo comoventes que geram invariavelmente lutos difíceis, mais longos, mais intensos e mais perturbadores.

É obvio que de nada vale evitar o sofrimento do luto através da fuga ao compromisso efectivo com algo ou alguém; e contudo é uma ideia que se vai tornando uma maneira de viver neste mundo hedonista e repleto de conflitos em que vivemos; uma normal cultural ensinada, aprendida e ensaiada com frequência, mesmo se denunciada como inútil e inaceitável.

E embora seja verdade que uma tal atitude garante um menos sofrimento, fará sentido comprar uma apólice de seguro contra a dor de uma futura perda se em troca formos obrigados a não entregar o coração?
Certamente não.

Nas letras minúsculas desse contrato macabro está expresso com clareza que, embora não se garanta a ausência de dor, auspicia-se a desaparição definitiva de toda a possibilidade de desfrutar de um encontro genuíno com os outros.
Não que seja impossível desfrutar sem a necessidade de por isso sofrer, mas o prazer é impossível se estamos obsessivamente a fugir à dor.

A maneira de não sofrer “de mais” não é amar “menos”, mas aprender a não ficar apegado àquilo que não existe quando nos toca o momento da separação ou da perda. O segredo é desfrutar do que temos e fazer os possíveis para que seja maravilhoso enquanto dura. O segredo é viver de forma comprometida cada momento da vida. O segredo é, enfim, viver amanhã pensando neste dia de hoje que foi tão maravilhoso, porque amanhã deveremos assumir o compromisso com o que está a acontecer, de modo a torná-lo também maravilhoso.

O conceito de compromisso é ancorarmo-nos ao que acontece em cada momento e não àquilo que aí vem, muito menos ao que já passou. Ficar agarrado a ontem é um compromisso que já passou. É viver agarrado ao passado, cultivando aquilo que já não existe. O que acontece se tentarmos redescobrir a nossa relação com o outro todos os dias? O que acontece se decidirmos tentar o compromisso apenas por hoje? O que acontece se nos obrigarmos a renovar o compromisso diariamente em vez de uma vez e para sempre? Para muitos temerosos, inseguros, estruturados, isso transformaria a relação num vínculo light, pouco comprometido.

A resposta mais comprometida e afirmativa a um vínculo afectivo é simplesmente estarmos dispostos a não nos apegarmos a essa pessoa, a essa situação, a essa relação. Se amanha terminar o que hoje tanto prazer nos dá, devemos ser capazes de tornar a decisão de o deixar ir, mas até que esse momento chegue (e talvez nunca chegue), enquanto o fim não chega, tentemos ser totalmente comprometidos: Tenho o compromisso daqueles que afirmam que se comprometem por amor e não daqueles que amam por compromisso.

Light é a decisão de não se comprometer nem aqui nem agora protelando a abertura e o risco para outra ocasião, outro lugar, outra realidade, e não acredito que isso constitua uma solução.

Ser quem sou é ser capaz de avançar no meio da dor, mas sem temer esse caminho regado de lágrimas que são os lutos, porque, além das pessoas que perdemos, existem situações que nos transformam, existem laços que mudam, existem etapas da própria vida que ficam para trás, existem momentos que acabam, e cada um deles representa uma perda para elaborar.

Se sou capaz de aceitar isso como fazendo parte da vida, acabarei por concluir que a minha principal responsabilidade é aprender a tornar-me mais rico com as despedidas.

Próximas leituras


Chega-te a mim e deixa-te Estar, Eduardo Sá

As pessoas só se armam em “crescidas” porque lhes falta alguém junto de quem possam, sem vergonha, continuar a ser pequeninas, à vontade. É por isso que, por fora continuam a crescer, enquanto, por dentro, se portam mal (como não o faziam quando eram crianças). Amuam connosco como se, só agora, “metessem medo” aos irmãos que mais receavam. Ou capricham nas birras que pouparam aos pais e que vivem, finalmente com um indesmentível requinte, ao pé de nós. Na verdade, fazem por ser grandes porque, dessa maneira, fantasiam que jamais serão pequenas, outra vez. Se a infância delas tivesse sido de algodão doce, não precisavam – acreditem - de crescer em bicos dos pés para espantarem as suas dores infantis.

É por se sentirem desamparadas diante da vida, que as toma de surpresa, que as pessoas se tornam assustadiças quando a vivem. Sentem que o coração arranha sempre que palpita mais depressa, como se tudo o que comove as desmanche e desarrume. O sentimento de pequenez, ora as enternece, quando percebem que o perderam, ora as assusta, quando o sentem a prendê-las aos seus medos infantis (e que, quase nunca, pudessem arejar as suas dores para que , a partir delas, se desse um novo começar).

Porque muitos capítulos essenciais da sua infância permanecem, mais ou menos por consertar, há pessoas que guardam para mais tarde (para quando forem crescidas, acho eu) tudo aquilo que acham essencial. Nomeadamente, virem a esclarecer se serão o melhor do mundo para alguém que, ao mesmo tempo, seja o melhor de si.

É por isso que há quem cresça dorido e assim permaneça, mesmo quando passa de uma relação para outra e para mais alguma. E, preso por dentro, insista em crescer dominado pela ambição de que todos gostem de si, como se à “sorte grande” se chegasse jogando só com triplas (que é meio-caminho andado – como sabemos - para se acabar empatando… e empatado).

Muitas pessoas transformam a vida num espantalho. De cada vez que espantam os medos, ficam mais presas a eles. É por isso que, sendo grandes, se sentem (por dentro desamparadas). Mais ainda, porque já perceberam que amar é sermos pequeninos… e o melhor do mundo ao mesmo tempo. (Aliás, amar é podermos ser mais do que pequeninos. É sermos de colo, outra vez) E, em vez de espantarmos as dores, encontrar quem espante em nós essa ambição tola de crescer por fora, sempre que o coração arranha (logo, que palpita mais depressa) como se tudo o que comove nos desmanchasse.

domingo, 8 de novembro de 2009

Laranja para os Deuses

Há uns anos dois amigos meus que pareciam ter pouco a ver um com o outro, casaram-se. Quando perguntei à irmã dela a razão de tão repentina e inesperada união, respondeu-me: é simples, ele tem 40 pares de sapatos. Ela também. Não achas que é uma boa razão? Demorei quase dez anos a achar que sim.A alquimia que mantém um casal unido sempre foi e há de ser um dos mais belos mistérios da natureza. Genética, educação, princípios morais e uma série de factores alietórios como a sorte e a cor dos olhos podem ajudar, mas há sempre qualquer coisa para lá do racional, do dizível, do explicável. Uma espécie de magia que mantém a frescura e a vivacidade; uma forma de arte para transformar a rotina num peso leve. E claro, muita sabedoria para saber como lidar com os piores momentos com a displicência equivalente ao empenho que se põe nos melhores. E além disso, muito amor, porque viver com alguém não é algo que se suporte ou se aguente, não há meio termo; ou é bom, ou é óptimo ou então é um inferno, mesmo que o inferno seja uma paz podre sem ondas, estagnada e a ganhar verdete de cinco em cinco minutos.
A teoria da cara-metade desde sempre perseguiu a humanidade. Os árabes imaginaram Alá a cortar laranjas e espalhá-las pela terra ao acaso, esperando que o destino a pusesse a rolar na direcção uma da outra. Mas esta teoria é redutora, porque uma laranja pode encaixar com várias metades, pelo menos metaforicamente, já que nunca fiz a experiência com os citados citrinos. Na década de 90 que foi prolixa em divagações místicas apareceram livros sobre a alma gémea, uma espécie de guia emocional para os mais carentes, uma mistura de paliativo com ansiolítico de efeito estonteante e entorpecedor para orientar os sós e abandonados. Vivemos numa sociedade onde há remédio e soluções à la carte para tudo, amor incluído.
Ainda voltado ao par de sapatos, o que faz com que um homem e uma mulher fiquem juntos para sempre? Com ou sem a ajuda de Deus ou de Alá há muitos que ainda o conseguem. E falo dos que estão juntos porque querem, os que estão juntos por circunstâncias extrínsecas à essência da questão não entram neste campeonato. Como o Pedro e a Luísa que são os dois músicos e vivem numa casa onde o piano e o violoncelo dormem na mesma sala mas nunca entram em competição nem dentro nem fora de casa. Como O Miguel e a Lúcia que sempre respeitaram os amigos um do outro. Como o Paulo e a Verónica que aceitaram viver dois anos separados para que ela pudesse dar um salto qualitativo na carreira. Confiança, conforto e cumplicidade parecem ser palavras-chave. Todos falaram em tolerância, paciência, calma e segurança. Quase todos falaram de paixão, todos mencionaram harmonia, estímulo, entendimento e esforço. Alguém acrescentou: não é uma coisa que se procure, simplesmente encontra-se. O trabalho está em não se deixar perder. Laranjas? Isso é para os deuses. MRP

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ter ou não um filho?

Na procura de leitura que de alguma forma não me obrigue a desligar, deparei-me com Jorge Bucay. Já falei do anterior livro que li, Amar de Olhos Abertos. Agora estou a ler a sua última obra que se intitula: As 3 perguntas: Quem sou? Onde Vou? Com quem?.
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Tenho como hábito marcar o cantinho das páginas quando encontro algo que me marca particularmente. Este autor tem a particularidade de transformar em acordeão os seus próprios livros :)!
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Havia algo que me interrogava há imenso tempo. Porquê e para quê ter filhos? Porquê da existência dessa vontade, dessa necessidade quase obrigação. E de repente eis a resposta:
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"O amor que se tem por um filho não é igual ao amor que se tem pelas outras pessoas. Com uma filha ou um filho acontecem situações únicas. Não apenas os amamos incondicionalmente como além disso os amamos de um modo diferente, amamo-los como se fossem uma parte de nós mesmos.
Esta sensação auto-referencial creio-a comum a todos os pais e é induzida pelo instinto que nos leva a cuidar dos nossos filhos e a protege-los sem pensar e que, de algum modo, nos incitou a concebe-los. O instinto da preservação da espécie, para lá do nosso desejo consciente, origina em cada um uma certa "necessidade" de ter filhos ou uma certa insatisfação ao não os ter.
Se fizermos uma análise fria e imparcial de tudo isto, fica claro que, se estivéssemos totalmente satisfeitos com a vida que temos, se tudo aquilo que tivéssemos fosse suficiente, se não sentíssemos a vontade de nos transcendermos ou o desejo de nos realizarmos como mãe ou pai constituindo uma família, possivelmente não teríamos filhos.
Trata-se de uma necessidade - seja ela uma questão de educação, uma questão cultural ou pessoal - aquilo que nos motiva a tomar a decisão de ter um filho."
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E fez-se luz para mim!

Lições 1.2 | A dependência: A co-dependência

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A co-dependência representa de muitas maneiras o grau superlativo da dependência doentia. Sobretudo quando o vício se mantém escondido por trás de uma suposta paixão amorosa ou quando o comportamento dependente se cola à personalidade sob falsos pretextos como " não posso viver sem ti" ou a necessidade sobrevalorizada da presença qualificadora da pessoa amada. Muitas vezes as pessoas argumentam:
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- Mas eu se amo alguém e a amo de todo o coração... não é normal, e até saudável, não poder viver sem essa pessoa?
- Não, nunca é saudável... e o pior é que nem é correcto. E pior ainda é que também não é verdade que a outra pessoa NÃO possa viver sem si, mesmo que lhe jure que é assim. Lamento.
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É claro que acho verdadeiramente lamentável, mesmo sabendo que, como diz a canção, "a verdade nunca é triste, o que não tem é remédio".
A verdade sem remédio que nos entristece é que é sempre, mas sempre, possível viver sem o outro... SEMPRE! E existem duas pessoas que o deveriam saber:
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Eu própria e quem se encontra a meu lado.

Lições 1.1 | A dependência: Os imbecis

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Um imbecil é alguém que necessita, por definição, de outro ou outros que lhe sirvam de bastão para poder avançar:
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Os imbecis intelectuais: são os que acreditam que não devem usar a cabeça (temem gasta-la se o fizerem) e por isso perguntam ao outro: "como sou eu? o que tenho de fazer? onde devo ir?" e quando têm medo de tomar uma decisão perguntam " o que farias no meu lugar?"
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Os imbecis afectivos: são aqueles que dependem sempre de alguém que lhes diga que gosta deles, que os ama, que são lindos e bons. Esta constantemente à procura de outro que lhe diga que nunca nunca nunca irá deixar de gostar dele.
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Os imbecis morais: são os que necessitam constantemente de aprovação do exterior para tomar as decisões. Encontra-se sempre dependente de comparações. Passa a vida a questionar-se se deve ou não mudar de carro de casa ou ter um filho.

Aqui escrevo amor real

A verdade é que a quantidade de coisas que leio e que quero registar para mim e para o mundo não poucas vezes me faz sentir que o meu blog original começa a ficar sem identidade, nomeadamente aquela que eu quero que ele tenha, com os meus textos, sentidos, verdadeiros e desafiadores. Assim, este novo cantinho prende-se com a necessidade de partilhar e registar excertos de outros blogs ou livros que eu considero interessantes e que não quero perder.

Espero que gostem!