As pessoas só se armam em “crescidas” porque lhes falta alguém junto de quem possam, sem vergonha, continuar a ser pequeninas, à vontade. É por isso que, por fora continuam a crescer, enquanto, por dentro, se portam mal (como não o faziam quando eram crianças). Amuam connosco como se, só agora, “metessem medo” aos irmãos que mais receavam. Ou capricham nas birras que pouparam aos pais e que vivem, finalmente com um indesmentível requinte, ao pé de nós. Na verdade, fazem por ser grandes porque, dessa maneira, fantasiam que jamais serão pequenas, outra vez. Se a infância delas tivesse sido de algodão doce, não precisavam – acreditem - de crescer em bicos dos pés para espantarem as suas dores infantis.
É por se sentirem desamparadas diante da vida, que as toma de surpresa, que as pessoas se tornam assustadiças quando a vivem. Sentem que o coração arranha sempre que palpita mais depressa, como se tudo o que comove as desmanche e desarrume. O sentimento de pequenez, ora as enternece, quando percebem que o perderam, ora as assusta, quando o sentem a prendê-las aos seus medos infantis (e que, quase nunca, pudessem arejar as suas dores para que , a partir delas, se desse um novo começar).
Porque muitos capítulos essenciais da sua infância permanecem, mais ou menos por consertar, há pessoas que guardam para mais tarde (para quando forem crescidas, acho eu) tudo aquilo que acham essencial. Nomeadamente, virem a esclarecer se serão o melhor do mundo para alguém que, ao mesmo tempo, seja o melhor de si.
É por isso que há quem cresça dorido e assim permaneça, mesmo quando passa de uma relação para outra e para mais alguma. E, preso por dentro, insista em crescer dominado pela ambição de que todos gostem de si, como se à “sorte grande” se chegasse jogando só com triplas (que é meio-caminho andado – como sabemos - para se acabar empatando… e empatado).
Muitas pessoas transformam a vida num espantalho. De cada vez que espantam os medos, ficam mais presas a eles. É por isso que, sendo grandes, se sentem (por dentro desamparadas). Mais ainda, porque já perceberam que amar é sermos pequeninos… e o melhor do mundo ao mesmo tempo. (Aliás, amar é podermos ser mais do que pequeninos. É sermos de colo, outra vez) E, em vez de espantarmos as dores, encontrar quem espante em nós essa ambição tola de crescer por fora, sempre que o coração arranha (logo, que palpita mais depressa) como se tudo o que comove nos desmanchasse.
1 comentários:
Sabes que o coloquei lá. Tenho o livro comigo aqui. e não passei ao lado, e voltei a ler as palavras aqui. Gosto mesmo delas!
Beijocas! E gostei também deste cantinho onde escreves amor!
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